quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Entrevista ao Fisioterapeuta: Rui Fonseca

1ªParte da Entrevista ao fisioterapeuta:



1. Entrevistador - Começando pelos acidentes desportivos, qual/quais os desportivos maiores causadores de lesões?

Entrevistado – É assim, naturalmente os desportos mais massificados, os mais vulgares, são aqueles que têm mais casos, em Portugal. Temos o caso do futebol, é a grande modalidade que trás mais casos aqui, não quer dizer com isto que, o futebol seja um desporto violento. Porque há desportos com taxas de incidência muito mais graves de acidentes desportivos do que outros, e o futebol comparado com o número de lesões, ao número de praticantes nem sequer é considerado um desporto com grande carga de lesões. Há, sei lá, o Rugby o motocross, o box, há uma série de modalidades, que têm uma taxa de incidência de lesões muito mais alta que o futebol, agora em Portugal e aqui concretamente, aparecem muitos casos de lesões desportivas ligadas ao futebol, mas não só, há outras, mas essa de facto é a maior.

2. Entrevistador - Dentro desses desportos, quais são as principais lesões desportivas? E quais os tratamentos associados às mesmas?

Entrevistado – É assim, em relação ao futebol, temos alguns grupos de lesões, grupos de lesões musculares, rupturas musculares, distensões musculares, e outras lesões mais complicadas, nomadamente a ligamentar, o joelho e futebol é uma das articulações mais…????.tudo o que é articulação do joelho, a tíbio-tacica, portanto a do pé também é muito lesada, mas depois têm coisas dependendo do gesto desportivo, assim as lesões aparecem, há muitas lesões de ombro ligadas por exemplo ao futebol, ou aos lançadores, os nadadores por exemplo, também têm muito mais lesões de ombro do que de perna, depende muito da modalidade, e também depende muito do gesto desportivo que essa modalidade provoca, que implica que vai provocar desgastes, ou pancadas no caso de haver traumatismos, p.ex no basquete, não há traumáticas praticamente nenhumas, ou não deveria haver, porque o contacto é proibido! Não é? Agora há problemas por exemplo, no basquete na tíbio-tarcica, por causa dos saltos e do amortecimento das quedas, quando os sapatos, ténis não são de boa qualidade, uma série de coisas.

3. Entrevistador - Pode referir as idades em que mais frequentemente ocorrem esses problemas?

Entrevistado – Nós aqui temos de tudo! Temos estudantes, até da Stuart Carvalhais, de quem estuda aqui perto, 16, 17 anos, como temos veteranos, até como que o Senhor Ferreira Dias, esteve ligado ao Sporting, durante alguns anos, conheceu lá muitos antigos jogadores, e isto já foi à alguns anos, que hoje fazem parte da equipa de veteranos e que continuam a servir-se da Clínica e dos nossos trabalhos, para as lesões que eles têm nos veteranos. Nos últimos três mais nova, e de casos de algumas moças, como de meia-idade, dos 30 também, já tratei aqui professores de educação física que fizeram lesões no decorrer das aulas, acontece a todos…e também na casa dos trinta anos. Naturalmente que há neste tipo de reabilitação de bairro e entendamos que isto não é um centro de primeira linha, não é um centro ligado à medicina desportiva, e um centro que é abrangente, pelos tratamentos todos, temos aqui, esta incidência de gente mais velha, porque é quando vêm para casa, que residem aqui, que fazem as suas modalidades ou que fez que teve lesões, que gosta de bater o pontapé na bola, e vai dando cabo do joelhito, uma entorse e recorre a este género que não tem a dimensão de um centro de medicina desportiva.


4. Entrevistador - No que toca aos acidentes de trabalho, quais os principais danos (físicos ou psicológicos)?

Entrevistado – Há de tudo! É assim, a reabilitação pretende acima de tudo, primeiro chamar ou trazer o acidente dado para a vida e para a vida em sociedade e depois em ultima instância para a sua profissão se assim for possível. Houve aqui alguns casos e tenho aqui alguns casos de pessoas que tiveram acidentes de trabalho, uns com reinserção muito boa, outros que deixam de poder trabalhar naquela profissão que até aí sempre fizeram, ou seja ficam com incapacidades. Nos casos em que os acidentes de trabalho são simples, pequenas lesões, quedas, entorses, não têm uma gravidade muito grande, onde não está em causa, ou onde não foi posto em causa a dignidade naquele emprego, não há praticamente danos psicológicos, porque, a pessoa está numa fase de tratamento, sabe que quando tiver curada irá retomar a sua profissão e o seu emprego, portanto, não apresenta normalmente danos psicológicos. Quem fica com muitas incapacidades, isso sim, há que também reequilibrar essas pessoas no sentido de, é um tratamento que aqui também se tem de ter em atenção, um tratamento psicológico, que acaba por ser muitas vezes, o padre desses doentes, porque abrem o coração dizem as suas mágoas, ou porque o seguro normalmente nestes casos são abrangidos por seguros de acidentes de trabalho que não abrange tudo, ou porque, os médicos do seguro vêm o casos como sendo uma coisa simples, e as pessoas fazem sempre os casos como sendo uma coisa complicada, pronto, mas de qualquer modo, há casos aqui de algum dramatismo, como casos de algum sucesso. Por exemplo, um piloto da TAP que por causa de um acidente de moto, não foi de trabalho, mas foi de moto, no caminho do trabalho para casa, o evitasse de poder conduzir e fazer a sua profissão, que é de ser piloto, foi o casos de um ano e quase meio de tratamento, perdeu inclusive o brevee teve um problema de uma mão, e depois mais tarde conseguiu recuperar o brevee hoje é um dos nossos pilotos da TAP em funções sem limitação nenhuma, mas durante esse período em que não se sabia se poderia ou não poderia, há com certeza danos psicológicos muito fortes, porque as pessoas vivem numa ansiedade constante.

Entrevistador – Isso também pode dar mais força às pessoas, também…

Entrevistado – neste caso deu, pronto a pessoa conseguiu passar por cima dessas coisas e hoje está completamente reabilitado, tem uma ligeiríssima incapacidade, mas não conflitua com a sua profissão.


5. Entrevistador – Pode referir quais os sectores de trabalho mais afectados? E em que faixas etárias mais ocorrem?

Entrevistado – Pois quer dizer, aqui não temos muitos casos, é assim, tenho aqui, posso dizer praticamente só homens, não tenho aqui uma estatística, ligados ao sector dos transportes, ou motoristas, pilotos, motoristas de camiões, mas é difícil porque a minha base de dados é muito curta para poder estar a responder a essa pergunta com algum, enfim, algum valor científico.


6. Entrevistador – Pode mencionar os principais acidentes domésticos?

Entrevistado – Pois, os acidentes domésticos, normalmente aqui, é verdade que nós trabalhamos numa zona residencial, tem que ver com idosos, quedas, quedas às vezes com alguma gravidade, enfim, fruto de alguma tontura momentânea, que caiu do banco e ia pegar nalguma coisa. As quedas são fundamentalmente aqui com traumatismos directos, da área ortopédica, fracturas e depois reabilitações dessas fracturas.

Entrevistador – Ok. Portanto, na 7ª e 8ª pergunta quais são as faixas etárias, que estão envolvidas nestes tipos de acidentes, e os tipos de traumatismos que afectam essas pessoas, pronto, normalmente é mais os idosos, não é…

Entrevistado – Também tenho aqui alguns casos mas não são domésticos, o que no fundo não responde à pergunta…


9. Entrevistador – Outro problema que leva à reabilitação são algumas doenças. Quais as mais usuais nos pacientes?

Entrevistado – Isso é assim, nós temos na área da reabilitação, temos de dividir isto em grandes grupos, vocês já perceberam que é a fisioterapia, tenho um grande grupo que são da ortopedia, (ossos, músculos e articulações), esse é, digamos o grande, o mais conhecido, da reabilitação, depois temos um grupo ligado a doenças degenerativas inflamatórios, nomeadamente, artrites reumatóides, portanto, dessa faixa da reumatologia, e temos um outro grande grupo de neurologia, o de neurologia tem que ver com os AVC’s, fundamentalmente são doentes que tiveram um acidente vascular cerebral, há alguns casos neurológicos de doenças que não são muito comuns também, porque também tem que ver com o avançar da idade da nossa população. Os aparecimentos de doentes com princípios de Alzeimer, com princípios de Parkinson, e portanto a sua reabilitação no sentido de lhe dar alguma manutenção e treino para evitar, que a doença se propague com mais rapidez, é nessa base. Na base dos AVC’s é tentar a sua reabilitação, há AVC’s de todos os tipos, não há nenhum caso igual, todos são casos distintos, e portanto têm desde os mais simples que quase não deixa sequelas ao mais complicado, que deixa gente acamada e nem sequer pode vir aqui, há de tudo…


10. Entrevistador – Em que idades se manifestam mais frequentemente? Já está respondida...

Entrevistado – Vamos lá ver, os desportivos, vocês têm de perceber, tudo o que é acidentes desportivos, é os jovens que andam mais dados a chutos na bola, os outros os normais de trabalho é a faixa média de quem trabalha e depois todas as outras doenças mais degenerativas, mais de desgaste, as artroses, já são para as pessoas de uma faixa etária mais avançada, mas aqui neste tipo de instalação temos porque estamos num bairro, temos muitas coisas de tudo, mas fundamentalmente, temos aqui uma população mais idosa.


11. Entrevistadores – Partindo agora para os acidentes de viação, que como sabemos, são um problema muito frequente em Portugal. Quais os danos mais usuais após um acidente de viação?

Entrevistado – Pois é assim, o que eu posso responder a isso pela minha outra experiência, não daqui, como vocês percebem, esta clínica não tem capacidade de acesso a cadeiras de rodas, tem esta objecção e portanto, não é possível, e nós aqui não tratamos grandes acidentados, grandes poli traumatizados, quando o acidente é grave. Quando o acidente não é grave, normalmente não vem nas estatísticas, quando o acidente é grave há sempre um poli traumatismo, um poli traumatismo, como o próprio nome indica, são vários ossos que se partem, quando esses ossos são por exemplo uma coluna vertebral normalmente dá problemas neurológicos, porque as pessoas ficam em cadeiras de rodas, aquilo que é a minha experiência na fisioterapia e já lá vão 23 anos, é que nos jovens acidentados, os acidentes de viação são os que normalmente ficam em piores condições, as pessoas da faixa etária dos 25 aos 40, ou dos 25 aos 50, normalmente têm acidentes de viação, podem ter poli traumatismo, mas é uma perna partida e um braço partido ou a cabeça que bateu no vidro ou coisa assim, grandes acidentados normalmente encontram-se nos centros de medicina de reabilitação, por exemplo Alcoitão, Curry Cabral, são jovens muitos deles acidentes de mota, nós não contabilizamos muito isso mas os acidentes de mota provocam na maior parte dos casos, por muito simples que sejam o acidente de mota dá logo grandes problemas. É evidente, se eu tiver 18 anos e tiver uma mota, ou tiver 18 anos e tiver um carro, se eu for acidentado de carro ainda tenho muita chapa que me protege, se for de mota não! Pronto esta é que é a diferença, apesar de se dizer, ah mas há menos acidentados de mota, há menos motas também nas estradas, portanto ultimamente o que é que se tem visto, eu acompanhei uma transformação na área das motas, até porque estive ligado ao moto-cross, também por esse motivo, mas acompanhei uma evolução que foi aquilo que era a motorizada do antigamente de á vinte e tal anos, que eram motorizadas que não tinham sequer suspensão, que tinham molas de suspensão duríssimas que numa curva e batia uma pedrinha e caia para o chão, hoje a técnica também de construção dos próprios motociclos já evoluiu de forma a que já haja mais defesa a travagem é feita com maior segurança, enfim à vinte e tal anos uma travar uma 50, mesmo a 30 à hora andava 50 metros, hoje se calhar trava-se a 100 numa 50 hoje e anda 5 metros, pronto é muito diferente, há um conjunto de técnicas que evoluiu que ajudou a que não houvessem tantos acidentes de motorizadas nem de motas, mas por outro lado, tenho consciência também que muitas vezes, não há mota que resista nem há técnica que resista porque depois, só acontece aos outros aquele dia que nos acontece a nós, esse é que é o grande problema, a consciência, o civismo ainda não existe nessa faixa, é natural o sangue na guelra da gente mais nova permite esse estado de espírito também.


12. Entrevistador – Normalmente, que faixas etárias saem mais prejudicadas, neste tipo de problemas? Respondeu-nos também à 12ª pergunta, depois passamos à 13ª pergunta.


13. Entrevistador - Atendendo à vossa experiência profissional, qual destas causas é a mais surge nos vossos pacientes?

Entrevistado – Aqui são mais doenças degenerativas, e por quê? Porque estamos inseridos numa zona residencial já com alguns anos, esta fase de Massamá já é uma cidade com população que tem, 20 anos mais ou menos. A faixa etária das pessoas que habitam aqui já andam nos 50 e muitos 60 anos, já é tudo reformado, e portanto, maioritariamente o que vem aqui à nossa fisioterapia é gente com doenças degenerativas, artroses, problemas de ombros, musculares, enfim problemas ligados à idade à geriatria. Dos traumáticos, dos acidentes desportivos, porque temos uma pessoa que teve muito tempo ligada ao desporto e tem muitos conhecidos nessa área. Os acidentes de trabalho porque temos algumas convenções com seguros também traz, porque tendo convenções com seguros, os seguros são normalmente feitos dos acidentes de trabalho, e são segurados e portanto, vêm cá fazer tratamentos por essa via também. Digamos, a maior parte são doenças degenerativas.


14. Entrevistador - A reabilitação é acessível a todos os grupos sociais?

Entrevistado – É. É acessível! É uma pergunta gira…Agora no nosso caso, como nós não temos convenção com o Serviço Nacional de Saúde, esta clínica, quem tiver dependente do Serviço Nacional de Saúde para fazer a reabilitação, não pode estar aqui, nos nossos serviços e o problema é esse. Os centro de fisioterapia, os centros de reabilitação que existem no nosso país, que tenham convenção com o Serviço Nacional de Saúde, que funcionam, a más horas e a preços tão baixos, que muitas vezes acontece, que ninguém é bem tratado nesses Centros, e depois não há grande fiscalização. Eu prefiro trabalhar, e já trabalhei em muitos sítios, eu prefiro trabalhar neste local que não tem convenção com o Serviço Nacional de Saúde, mas sei que tem tratamento personalizado a cada doente que aqui vem, naturalmente se calhar me custará mais se não tiver outra oportunidade que não seja o Serviço nacional de Saúde, porque terá de pagar directamente, os nossos preços no fundo não divergem muito, daquilo que é uma outra tabela que é a tabela dos funcionários públicos, que aí temos convenção, ou seja, não prejudicamos as outras pessoas em relação aos funcionários públicos com que temos convenção, que é a ARSE, aplicando-lhes o mesmo valor, agora, não são os mesmos valores do Serviço Nacional de Saúde. Não sei o que querem dizer, se é muito caro, se é acessível? Se calhar consegue-se para a maior parte das patologias consegue-se fazer tratamentos diários, com o custo de dois maços de cigarros, se isto for algum termo de comparação, portanto, quem fuma não pode dizer que vir aqui fazer fisioterapia é muito caro. Esta é a ideia que eu quero dar, é que com 7, 6, 8 euros consegue-se fazer 3 tratamentos diferentes, massagem, calor, ultra-som. Quem tiver outros acordos (Médis) paga os tratamentos aqui e depois apresenta nessas empresas para ser reembolsado. Há muitas pessoas que entendem que não devem estar a investir esse dinheiro no tratamento e querem que a empresa que presta o serviço faça contas directamente com o caso da Medis por exemplo. Neste momento estamos em negociações para isso, mas temos alguns seguros, temos a ADSE, mas a ADVANCE CARE, Medis todos esses cartões de saúde, que é uma coisa que só muito recentemente é que se começou a instalar, essas convenções são estabelecidas normalmente por essas empresas, elas não aceitam todas as clínicas, aceitam algumas numa zona, mas se tiverem mais que uma quantas já não querem, aceitam as que lhes dão mais condições, isto aqui tem tudo haver com a economia. Se a Medis poder gastar pouco em Massamá, com os clientes que tem dos seus cartões em Massamá, aliás, por isso é que se vê muitas vezes, as tais clínicas que têm convenções com o Serviço Nacional de Saúde, ou seja aquelas que tratam 10 vezes por hora a terem as convenções com a Medis porque são mais baratas.


15. Entrevistador - Podem estimar uma média dos custos dos tratamentos, dependendo da lesão para os utentes? E para o Serviço Nacional de Saúde?

Entrevistado – Pronto, é assim como eu lhe digo, eu posso tentar dar-lhe um exemplo, que para o Serviço Nacional de Saúde uma Massagem, demorará a ser feita com as condições que uma massagem de reabilitação, independentemente do tipo de massagem que seja, uma massagem de um segmento, braço, mão, coluna, lombar, demorará 20 minutos, se pensarmos por exemplo que o fisioterapeuta de estado, um profissional que trabalhe num hospital que ganha sensivelmente 1200 euros de salário por mês, trabalha 20 dias, ganhará 60 euros por dia se fizermos essa conta trabalhando 6 horas, são 10 euros por hora, sai a esta clínica. Se fizermos o tratamento a esse preço dificilmente o fisioterapeuta se fizer 3 massagens por hora, que é aquilo que é recomendável, quer dizer de 20 em 20 minutos, se o Serviço Nacional de Saúde só paga uma massagem, a clínica fica a perder 7 euros, só com o trabalho do técnico, portanto o que é que acontece, ou faz 10 massagens por hora, e o que é pior ainda não é só fazer as 10 massagens é não ser o fisioterapeuta a fazer, por isso é o que encontramos na maior parte das clínicas, é as auxiliares, enfim, massagistas. E estamos a falar de massagens como poderíamos estar a falar de outros tratamentos. É evidente que eu sei que colocar um calor, fazer um ultra-som, colocar uma onda curta se calhar uma auxiliar bem preparada consegue fazer, mas é preciso que tenha preparação, por isso há cursos para auxiliares de fisioterapia e de reabilitação. Agora há situações que não são palpáveis, por exemplo, vou explicar-vos uma coisa, estou a mobilizar um doente com AVC, eu muitas vezes não sei quanto tempo eu vou demorar a mobilizar os dedos todos, o pulso, o cotovelo, o ombro, depois tenho de mobilizar a anca, para ser bem feito eu vou estar uma hora com um doente destes, se um tratamento de técnicas especiais de sinais e terapias, que é assim que o Serviço Nacional de Saúde chama a isto, dá 2 euros à clínica, naturalmente que a clínica não pode ter este tipo de acordos, ou então não presta este tipo de serviços. Pronto, nós aqui tentamos jogar com as duas coisas, nem eu ganho os 10 euros por hora, ou seja abdico da possibilidade de ganhar mais, mas fazer uma coisa que gosto e produzir um trabalho que me dê gozo profissional fazê-lo, bom, o que nem sempre se encontra hoje em dia na nossa sociedade, bom mas eu já tenho vinte e tal anos de serviço, já tenho obrigação de não estar nesta profissão pelo dinheiro, e não estou claramente, não estou, até porque sou licenciado em gestão, e faço aqui 4 horas, e depois vou fazer gestão para o resto do dia, mas gosto disto, foi a minha primeira profissão. Desde que nós, seja a profissão que for, abdicarmos um pouquinho da questão monetária, e entendermos que uma profissão de saúde também é uma profissão de Solidariedade Social, quantos e quantos doentes eu tive e não recebi nada por eles… e a tratá-los em casa até… O problema que eu vejo hoje na vossa geração, é que encaram o Mundo e a vida, como o grande objectivo é ter o melhor carro na rua, o grande objectivo é ter a melhor vivenda e ir de férias para o Algarve e na competição entra toda a gente.



16. Entrevistador - É importante e/ou frequente o uso de fármacos para a reabilitação? Se sim, são dispendiosos, ou são comparticipados?

Entrevistado – Não. Na reabilitação, na medicina de reabilitação, na fisioterapia utilizamos cremes, normalmente cremes que as pessoas trazem para a massagem, mas diz-nos a prática que o melhor creme há-de ser um creme gordo, portanto um creme que nem sequer tem um grande custo, é a vaselina, pó-de-talco serve perfeitamente. Tudo o que se usa na reabilitação, e contrariamente à medicina clássica é um tratamento por agentes físicos, tudo o que utilizamos fundamentalmente é agentes térmicos, calor e frio, agentes eléctricos, vários tipos de correntes e de radiações, e depois toda a actividade de sinesioterapia, ou seja mecanismos que ajudam a melhorar alguns gestos, para isso não se usa praticamente, e eu digo praticamente não é na totalidade, produtos químicos. Usa-se em que circunstancias? Apenas num tipo de corrente, que se chama ionização, que é uma corrente galvânica onde passa do pólo negativo para o pólo positivo, portanto passa a corrente de um lado para o outro, mas se colocamos um produto iónico, num dos pólos, um produto que seja ionicamente negativo no pólo negativo, ele é expelido para outro lado. Nós utilizamos isso para tentar fazer uma coisa que é ionizar uma zona, e utilizamos basicamente, o iodeto de potássio, que é um produto iónico que serve para antiflamatório, utilizamos fulcoreto de cálcio para falhas de cicatrização de fracturas, por causa do cálcio, pronto usa-se aqui uma coisinha, mas não é isso que é a fisioterapia, a base da fisioterapia são agentes físicos e portanto aqui não há praticamente químicos na mistura, normalmente está é associado, façamos aqui uma outra questão, quando os doentes vêm para aqui, vêm de um médico de clínica geral, ou de um médico neurologista ou de um médico ortopedista, naturalmente que as pessoas vêm para a fisioterapia para fazer os tratamentos dos agentes físicos, mas muitas vezes vêm com analgésicos, ou com anti- piréticos, quando têm umas febres, ou com anti-inflamatórios prescritos pelo médico, fazem associação medicamentosa com os agentes físicos.


17. Entrevistador – Que materiais/equipamentos são utilizados durante o processo de recuperação?

Entrevistado – Aí é só ver aqui, vá, já agora vejam!


18. Entrevistador – A reabilitação é um processo lento? Tendo em conta a idade e o traumatismo, pode-se estabelecer um valor médio do tempo de recuperação?

Entrevistado – Pode. Pode em função em função do tipo de lesão. A fisioterapia e a reabilitação, não são um ciência exacta, e cada um depende e reage de formas, por vezes quase estranhas, não é verdade, na média, as coisas funcionam com determinados tramitos, e por isso nós falamos os tempos de cicatrizar uma fractura 4 semanas, servimo-nos de uma coisa que se chama estatística, e na estatística, não há um número certo, 4 semanas, é a maior parte dos casos, em 4 semanas as situações estão em condições de estar cicatrizadas. Nem quer dizer que, em três semanas se calhar há casos, em 1000 há 1,2 ou 3 que às 3 semanas já está calcificado, ou também há 2, ou 3 casos em mil que às 8 semanas ainda não está calcificado, dentro da mesma faixa etária. A grande média é as 4 semanas, mas não quer dizer que não se prolongue casos para um lado ou para o outro. Cada ser reage de forma diferente, há coisas que ajudam a, sei lá, se eu tiver uma doença, que atrasa a calcificação ela vai-se atrasar. E isto é verdade, em função das idades, portanto, eu quando tenho uma fractura de um jovem, sei que se calhar 4 semanas chega na fractura do rádio chega para aquela fractura, mas se for uma velhinha, que já tem uma osteoporose, se calhar tenho de deixar o gesso 5 ou 6 semanas, porque a tal estatística, também me diz se eu tiro ás 4 semanas se calhar aquilo não está estável, mas eu também posso tirar por que a velhinha não tem a actividade do jovem, pronto aqui, começam a entrar em campo, para a assunção dos tempos de reabilitação, começa a entrar em causa a idade é verdade, o tipo de tratamento e a capacidade de cada pessoa tem de se regenerar mais depressa ou não.


19. Entrevistador – Com que periodicidade e o número de horas deve ter o tratamento, tendo em conta os mesmos factores da pergunta anterior (idade, traumatismo)? Respondido na 18.


20. Entrevistador – Dentro da equipa de especialistas, nesta área, qual é a ordem dos peritos pela qual o paciente deve ser atendido, de modo a proporcionar-lhe uma recuperação com sucesso?

Entrevistado – Normalmente uma equipa terapêutica tem um médico fisiatra e um fisioterapeuta, que pode ser complementar com uma auxiliar, o paciente quando tem algum problema, normalmente vai ao seu médico de família e depois vai, ao médico da especialidade, e se é um problema de ossos vai ao ortopedista, se o ortopedista entende que ele tem de fazer tratamentos vem ao fisiatra, que é o médico da área e prescreve os tratamento e passa para o fisioterapeuta e o fisioterapeuta aquilo que entende delegar no seu auxiliar, delega e faz o que tem a fazer. Normalmente a equipe de trabalho final, é fisiatra e fisioterapeuta são estas duas entidades que normalmente falo. Há muitas vezes, no nosso caso, por exemplo agora, porque faleceu o nosso médico fisiatra, então eu falo directamente com os médicos que os mandam directamente para cá, se foi o cirurgião ortopedista que operou, precisa de fisioterapia e manda para mim, e não temos cá um substituto, porque senão ia para o médico fisiatra, pronto, mas a minha formação também já permite um pouquinho pegar num caso de ortopedia, e o ortopedista disser, “sim senhor, é isto que tem de fazer ou aquilo”, e aí já segue. Uma equipa normalmente de sucesso tem que ver com médicos especialistas, um médico fisiatra, e um fisioterapeuta.


21. Entrevistador – Sente que existe articulação com as outras áreas da Medicina? Qual a sua relevância?

Entrevistado – Sim, sim, foi o que eu acabei agora de dizer, isso tem a ver com os médicos da especialidade, que são variadas, em função daquilo que os próprios médicos especialistas, neurologia, reumatologia, sabem se há ou não há benefícios na fisioterapia para os seus doentes daquela área, para os mandarem para mim. Pronto, se eles forem burros, não recomendam coisa nenhuma e os doentes, se calhar poderiam ter melhoras, outro tipo de melhoras, e se calhar não têm, mas é um problema deles…



22. Entrevistador – Quais os centros/clubes/hospitais/ginásios de reabilitação mais conhecidos na área de Lisboa?

Entrevistado – É assim, o de Alcoitão numa área, o hospital Curry Cabral numa área mais generalista, que é uma escola também, também dá estágio, tenho um colega meu que agora abriu este fim-de-semana a Fisiogaspar, é meu colega de curso, é um conceito diferente de fisioterapia, é um conceito diferente de centro de reabilitação, é um conceito mais alargado, que é um conceito de médico – SPA.


23. Entrevistador – Já lhe apareceram crianças em idade escolar com problemas na coluna, devido ao peso das mochilas? Que conselhos devem ser seguidos para não surgirem esses problemas?

Entrevistado – Já, porque as mochilas más, são aquelas que não são simétricas, portanto as pessoas, os miúdos especialmente gostam muito de andar com as mochilas penduradas, em vez de as colocar correctamente nos dois ombros. Uma mochila de duas asas é para colocar atrás, e depois também há pesos, em função da evolução da idade, as crianças da escola primária, se calhar 3 Kg é o máximo que pode lá estar dentro.

Entrevistador – Os alunos do 7º ano têm 13 disciplinas…é complicado…

Entrevistado – Se calhar é preferível ser bilateral!

Entrevistador –Nós vamos realizar uma estatística para a escola.

Entrevistado – Agora aqui não há dados, até porque ninguém se queixa normalmente nesta fase, pode dar escolioses. No processo de crescimento, a coluna tem uma serie de curvas, se eu estimular mais um lado que outro, posso ficar com uma perna mais comprida do que outra, desvio de anca um ombro mais levantado em relação ao outro, há ali um desnível que ficar uma peça rodada, porque o que é que faz uma escoliose? Basta uma peça da coluna rodar ligeiramente para que curvatura passe logo a fazer isto. Pronto aquilo é um encaixe de não sei quantas peças, que estão ali todas coisas, basta uma no meio começar a rodar, aquilo tudo toma outra configuração, essas rotações das peças é que dão as escolioses, isso é mais frequente de facto uma escoliose juvenil, mas é uma escoliose que não tem uma gravidade como muitas vezes querem falar, se calhar é mais grave estar assim nas aulas.

Entrevistador –Se calhar também há aquelas conveniências de ter as malas mais pesadas atrás, a disponibilidade dos livros.

Entrevistado- Pois é assim, eu acho no meu tempo, ninguém levava livros para a escola, ao kilo, levava-se apenas os cadernos para estarmos com atenção, e só alguns livros quer para leituras quer para exercícios, não se levava os manuais todos, é uma brutalidade e se agora são obrigados a levar manuais é porque os professores são maus, porque naqueles tempos os professores não davam as aulas a ler os manuais, isso agora é outra questão, se calhar fazem bem ser avaliados, porque se calhar passam a ser melhores.

Entrevistador- Pronto, acabou aqui a nossa entrevista, muito obrigado pela disponibilidade.

Entrevistado- OK. Alguma coisa que seja preciso, deixem aí o vosso contacto.



2ªParte da Entrevista ao Fisioterapeuta - Quais os instrumentos e materiais mais utilizados na reabilitação?


Parte 1




Parte 2




Parte 3




Parte 4
























Alguns outros instrumentos utilizados na reabilitação (Mecanoterapia):


Roda náutica



Bicicleta


Pedaleira TT


Tábua de Freedman


Halteres



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